Assassinatos em família: o lado sombrio do vício em apostas no Brasil
A febre das apostas online no Brasil está cobrando um preço alto — e, muitas vezes, irrecuperável. Em meio a campanhas coloridas, promessas de dinheiro fácil e celebridades promovendo plataformas de bets, crescem também os casos de violência, desestruturação familiar e crimes motivados por dívidas e desespero. O vício em jogos deixou de ser uma preocupação restrita à saúde mental para se tornar um tema de segurança pública.
O caso mais recente que escancarou esse abismo aconteceu nesta semana, em Minas Gerais. Um homem de 32 anos, viciado em jogos online, matou a própria mãe — uma professora de 56 anos — por conta de dívidas acumuladas com apostas. Esganou a mãe, ocultou o corpo e, num gesto de frieza absoluta, fez postagens nas redes sociais lamentando a morte, como se fosse mais uma vítima. Não era. Era o autor.
Casos como esse se multiplicam. Uma reportagem do portal UOL expôs o que já era sentido em muitas famílias brasileiras: o vício em jogos online tem levado pessoas ao limite. Em países que enfrentam uma explosão parecida de apostas digitais, como Reino Unido e Austrália, estudos mostram que viciados em jogos pensam mais em suicídio, têm mais problemas psiquiátricos e estão mais propensos a cometer crimes. O Brasil segue na mesma trilha — a conta chegou.
Outro episódio que ilustra esse cenário trágico ocorreu no início de 2023, em Itaberá, interior de São Paulo. Luiz Carlos de Proença, de 32 anos, invadiu a vida de sua sobrinha chamada Fátima*, prometendo ajudá-la a sacar um valor do governo.
Ao invés disso, acessou o aplicativo bancário dela, fez um empréstimo de R$ 7.535 e transferiu o valor para si. Em seguida, tentou matá-la usando um saco plástico. Sobreviveu por pouco. Luiz Carlos foi condenado a 15 anos de prisão.
O motivo? A sobrinha da vítima foi direta: “Ele estava completamente endividado por causa de jogos online.”
Esse não é um problema isolado. Especialistas apontam que o vício em apostas digitais age de forma silenciosa, mas devastadora. Começa com pequenas jogadas, avança para empréstimos, depois chega às mentiras, ao roubo, à agressão. Até virar caso de polícia — ou de necrotério.
O que antes era vendido como entretenimento, hoje se revela uma armadilha para milhares de famílias brasileiras. A glamurização dos jogos e a falta de controle estão transformando pais, filhos, esposas e irmãos em vítimas — ou algozes. No fim, todos perdem.