Legado de John MacArthur: morte do pastor não apaga sua influência


A notícia da morte do pastor John MacArthur, anunciada na última segunda-feira (14), mexeu com o mundo evangélico. Aos 86 anos, após complicações causadas por uma pneumonia, MacArthur partiu para estar com o Senhor a quem serviu com dedicação ao longo de mais de cinco décadas. Mas sua ausência física não ofusca — e jamais ofuscará — o legado sólido que ele construiu: como pregador, escritor, formador de pastores e, principalmente, como uma das vozes mais firmes da ortodoxia bíblica nos tempos modernos.

A Grace Community Church, igreja que liderou por 56 anos em Sun Valley, Califórnia, confirmou a partida do pastor em comunicado: “Com tristeza e esperança anunciamos que o pastor John foi estar com o Senhor”. E foi exatamente assim que muitos o conheceram: fiel até o fim, incansável na exposição da Palavra, corajoso diante das pressões do mundo e profundamente comprometido com a verdade bíblica.

Um legado firmado na Escritura

John MacArthur não foi um pregador de modismos. Seu estilo não seguia tendências, mas mergulhava, verso por verso, na Escritura — característica que o tornou referência no chamado “ensino expositivo”. Foi dessa convicção que nasceu seu ministério “Grace to You”, com alcance internacional em transmissões de rádio e televisão, que formou gerações inteiras de cristãos apaixonados por uma fé bíblica, profunda e prática.

Seu compromisso com a Palavra rendeu frutos: mais de 150 livros publicados, entre eles a icônica Bíblia de Estudo MacArthur, com mais de 1 milhão de cópias vendidas e presença garantida na estante de milhares de cristãos ao redor do mundo.

Pregador, teólogo, formador de líderes

MacArthur era mais que pastor. Era mentor de pastores. Foi fundador do The Master's Seminary e da The Master's University, onde dedicou-se à formação de ministros preparados teológica e espiritualmente para liderar igrejas com fidelidade às Escrituras.

Sua paixão pela igreja local era visível. MacArthur acreditava que o pastorado era um chamado de Deus e que devia ser exercido com zelo, coragem e doutrina firme. Quem passou pela Grace Community Church, especialmente como aluno ou estagiário ministerial, não saiu ileso de sua intensidade bíblica. Como relembrou Donald Sweeting, chanceler da Colorado Christian University e ex-estagiário de MacArthur: “Ele era um leão do púlpito. Um pregador que Deus usava para tornar outros pregadores melhores.”

Uma fé corajosa em tempos turbulentos

MacArthur ficou conhecido por enfrentar a cultura e o politicamente correto com firmeza bíblica. Durante a pandemia de COVID-19, desafiou publicamente as ordens do estado da Califórnia, que proibiam cultos presenciais. A igreja permaneceu aberta, e o caso virou disputa judicial que terminou com uma indenização de US$ 800 mil a favor da igreja — vista por muitos como uma vitória da liberdade religiosa.

Mas sua coragem também o levou a caminhos espinhosos. Ele foi crítico da teologia da prosperidade, do evangelho diluído e de líderes evangélicos que, em sua visão, cediam às pressões culturais em detrimento da verdade bíblica. Essa franqueza lhe rendeu tanto admiração incondicional quanto fortes críticas — especialmente no tratamento de casos internos envolvendo abuso e aconselhamento pastoral, que marcaram os últimos anos de seu ministério com polêmicas.

Um final que honra a trajetória

Com problemas de saúde nos últimos anos — entre cirurgias cardíacas, pulmonares e complicações pulmonares recentes —, MacArthur sabia que o fim estava próximo. Em uma de suas últimas mensagens gravadas, declarou com serenidade: “Percebo que estou na última volta. Sou todo louvor a Deus por tudo o que Ele permitiu realizar com Sua Palavra nesses anos de ministério.”

Ele deixa sua esposa, Patricia, com quem foi casado por décadas, além de quatro filhos, 15 netos e nove bisnetos.

O que fica depois da morte de John MacArthur?

Ficam os livros. Ficam os sermões. Ficam os pastores que ele formou. Fica a Bíblia de Estudo que virou companheira de jornada espiritual para tantos. Fica a ousadia de ter defendido o púlpito como espaço de reverência e verdade. E, acima de tudo, fica a lembrança de um homem imperfeito, mas comprometido com um Evangelho que transforma, confronta e salva.

No mundo da fé, nem todo mundo concordava com John MacArthur. Mas uma coisa é inegável: ele marcou gerações, moldou a teologia evangélica moderna e não teve medo de pagar o preço por sua fidelidade.

Hoje, ele já não prega no púlpito da Grace Community Church. Mas sua voz continua ecoando — nas páginas que escreveu, nas pregações que gravou e nas vidas que tocou.